domingo, 22 de abril de 2012

O mundo como Vontade e Representação [Die Welt als Wille und Vorstellung]

> disponível em [alemão]: http://www.schopenhauer-web.org/textos/MVR.pdf


> disponível em [português]: http://books.google.com.br/books?id=tVTHZt0guKIC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false


RESUMÃO ESQUEMÁTICO:


Prefácio à primeira edição (Dresden, agosto, 1818)

*PENSAMENTO ÚNICO:

-“Apesar de todos os esforços, não pude encontrar caminho mais breve para comunicá-lo do que todo este livro”.

-Tal pensamento a ser comunicado é aquele que se procurou sob o nome de filosofia. Ele se mostra por diferentes lados, nomeados: Metafísica, Ética e Estética.

-Num sistema de pensamentos deve-se sempre possuir uma coesão arquitetônica, uma parte sustenta continuamente outra, que não sustenta aquela. No pensamento único é o contrário: guarda a mais perfeita unidade, sua coesão é orgânica, nenhuma parte é a primeira ou última.

-Um livro é dessemelhante à organicidade do pensamento único, pois ele deve ter necessariamente uma primeira e uma última linhas.

*Recomendável ler duas vezes o livro, sendo que:

-O começo pressupõe fim e vice-versa, cada parte pressupõe as outras. “A construção orgânica, não encadeada, do todo tornou necessário em alguns momentos tratar duas vezes do mesmo tema”.

-1ª exigência de leitura: Ter paciência, na segunda leitura tudo se esclarecerá. “O leitor mesmo é por sua vez também filósofo”.

-2ª exigência: Ler antes Sobre a quádrupla raiz do princípio de razão suficiente e o 1º capítulo de Sobre a visão e as cores.

-3ª: Ler escritos capitais de Kant e apêndice Crítica da filosofia kantiana. Ter freqüentado a escola do “divino” Platão e iniciado no pensamento dos Vedas (Upanixades, literatura sânscrita, milenar sabedoria indiana).

*Aviso aos leitores impacientes: não se tenho nada a expressar, espero pelo menos receber gratidão por ter alertado a não perder tempo com um livro destinado a uma minoria. A quem chegou ao prefácio e espera indenização por ter gasto dinheiro vivo pelo livro, há vários usos para um livro não lido: preencher lacuna na biblioteca (parecerá muito bonito junto a outros livros), colocá-lo na mesa de chá da amada, ou (aconselhável) que se faça uma resenha dele.

*VERDADE: “a vida é breve e a verdade vive longamente [...] digamos a verdade”.

Prefácio à segunda edição (Frankfurt-sobre-Meno, fevereiro, 1844)

*tinha 56 anos.

*Diferencia Filosofia verdadeira de seu contrário:
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-humanidade

-reconhecimento tardio

-trabalho incessante de uma vida

-autêntico, correto

-coisa real tomada nela mesma

-instrução

-empenho nobre e sublime, em favor da luz e da verdade, seguindo seu próprio caminho, existente em si

-verdadeiro primum mobile (1º motor), estrela-guia, mola impulsora secreta

-intelecções [Einsichten]

-perseguir sina intelectual porque “tem que” fazê-lo

-reflexão, deliberação intelectual

-honestidade: meditações filosóficas investigadas para si que podem servir de benefício (impressionar, alegrar, consolar) para outros

-pesquisa séria e silenciosa

-busca da verdade (estrela-guia)



-contemporâneos, compatriota, geração de agora preocupada com a ilusão do momento

-falso, ruim, absurdo, disparatado

-vantagens, interesses materiais

-aparências (“o falso brilha”)

-entretenimento

-fins estatais/pessoais/burocráticos/eclesiásticos/materiais/partidários

-intenções [Absichten]

-filosofia maltratada como instrumento do Estado (governos) ou como meio de sobrevivência (professorado filosófico)

-“A verdade não é uma huri, que se joga ao pescoço de quem não a deseja; antes é uma donzela tão difícil que nem quem tudo lhe sacrifica ainda não pode estar certo de seu favor” (p.29)

-“como também em geral a filosofia, decaída a ganha-pão, não deveria degenerar-se em sofística?” (p.29)

-sofística = ganhar dinheiro com filosofia (mediocridade)

-“vemos em todas as universidades alemãs a adorada mediocridade” (p.30)

-palavrório inútil

-inspiração, intuição, “pensamento absoluto” (vazio intelectual, charlatanismo)

-Hegel = Caliban

-contemporaneidade = prostituída

*em 25 anos, nada foi retirado da primeira edição, pois “minhas convicções fundamentais se confirmaram” (p.31), na segunda edição, a elaboração completa de pensamentos da maturidade complementam o fogo energético da primeira concepção da juventude.

*KANT:

-“minha filosofia parte da kantiana” (p.33)

-“Kant vai ao particular”

-quem não domina a filosofia kantiana está em estado de inocência, como o menor de idade está para o adulto

-quem faz leitura rápida/impaciente de Kant: direção ruim, filosofema, ordinário, cabeças vulgares, sofistas cabeças-de-vento, ausência de graça, hegeliaria sem-sentido, palavrório vazio, sofistas mais pobres, disparate mais besta da dialética

-a doutrina kantiana só está em suas obras

*”quem se sente impelido para a filosofia tem de buscar seus mestres imortais na serena santidade de suas obras” (p.35)

*aos professores de filosofia:

-ignoraram sua obra [schopenhaueriana] como algo dentro de seus objetivos políticos seguros e astutos

-“primum vivere, deinde philosophari” – querem e vivem da filosofia

-ensinam teologia especulativa, fábulas

*”minha filosofia não veio a lume para que se possa viver dela” (p.36)

*”que tem a ver a minha investigação silenciosa e séria com os tumultos da cátedra e os bancos de sala de aula, cuja mola impulsora mais íntima são sempre os fins pessoais?” (p.37)

*é aconselhável o silêncio e o ignorar até que o reconhecimento venha

Prefácio à terceira edição (Frankfurt-sobre-o-Meno, 1859)

*tinha 72 anos (1859)

*136 páginas a mais do que a segunda edição

*Parerga e paralipomena = ornatos e suplementos: escreveu sete anos após segunda edição


Livro primeiro

§1

*”O mundo é minha representação”

-verdade a priori universal (não necessita de prova) em relação a cada ser que vive e conhece

-só o homem pode trazê-la à consciência refletida e abstrata

-o sol existe para o olho que o vê, a terra existe para a mão que a toca

-tempo/espaço/causalidade (figuras particulares do princípio de razão) já a pressupõem

-o que existe para o conhecimento (mundo inteiro) é tão-só objeto em relação ao sujeito

-essa verdade já se encontra no ceticismo que inspirou Descartes

-Berkeley foi o primeiro a expressá-la decididamente

-filosofia cética de Vyasa: a matéria não possui essência alguma independente da percepção mental

§2

*sujeito = aquele que tudo conhece onde houver conhecimento, e nunca é conhecido; tudo existe para ele; é o sustentáculo do mundo; ele não se encontra nas formas (tempo/espaço); é inteiro, indiviso.

*objeto (corpo) = está sempre submetido ao princípio de razão, se encontra nas formas do tempo e do espaço; pluralidade; é representação; está em relação necessária com outros objetos.

*mundo = possui duas metades essenciais/necessárias/inseparáveis: OBJETO e SUJEITO. Onde começa o objeto, termina o sujeito.

*as formas universais e essenciais de todo objeto (tempo/espaço/causalidade) partem do sujeito e residem a priori na consciência [Kant].

*princípio de razão = tudo o que conhecemos a priori é conteúdo dele.


§3

*a diferença capital entre todas as representações é a entre intuitivas e abstratas.

*representações abstratas = constituem apenas UMA classe de representações – os conceitos; a capacidade para formulá-los chama-se razão e é própria do humano.

*representações intuitivas = abrangem todo o mundo visível (a experiência inteira).

*experiência = é dependente da intuição.

*espaço/tempo = são intuídos puramente e vazios de conteúdo, são uma classe de representações que subsistem por si mesmas; são formas universais da intuição, intuíveis por si, independentes da experiência.

*princípio de razão = “nada é sem uma razão pela qual é” [nihil est sine ratione cur potius sit, quam non sit], se aplica à totalidade dos fenômenos; determina experiência como lei de causalidade e motivação, também determina pensamento como lei de fundamentação dos juízos; possui quatro raízes:

1) devir: a ele estão submetidas as representações da realidade (da experiência possível),

2) conhecer: ” representações de representações (conceitos),

3) ser: ” parte formal das representações (intuições das formas dadas a priori – o espaço/tempo); no tempo é a seqüência de seus momentos, no espaço é a posição de suas partes,

4) agir: ” sujeito do querer (agir conforme a lei de motivação).

*TEMPO = nele, cada momento só existe na medida em que aniquila o precedente (seu pai) para em seguida ser novamente aniquilado; passado/futuro são tão nulos quanto qualquer sonho; presente é somente o limite (sem extensão e contínuo) entre ambos – a mesma nulidade é reconhecida nas demais formas do princípio de razão; tudo resultante de causas e motivos possui existência meramente relativa (existe apenas por/para um outro, também relativo).

*o essencial dessa visão é antigo:

-Heráclito: fluxo eterno das coisas,

-Platão: objeto como aquilo que sempre vem-a-ser, sem nunca ser,

-Espinosa: meros acidentes da substância única, existente e permanente,

-Kant:contraposição fenômeno x coisa-em-si,

-Vedas (sabedoria milenar indiana): MAIA, o véu da ilusão, que encobre os olhos dos mortais, deixando-lhes ver um mundo


§4

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Obras

  • 1813 (25 anos de idade) – “Da quádrupla raiz do princípio da razão suficiente” [Ueber die vierfache Wurzel des Satzes vom zureichenden Grunde] (tese de doutorado).

  • 1816 (28) – “Da visão e das cores” [Ueber das Sehen und die farben].

  • 1839 (51) – Schopenhauer recebe um prêmio da Sociedade Norueguesa de Ciências de Drontheim por uma dissertação sobre "A liberdade da vontade" [Über die Freiheit des Menchlichen Willens].

  • 1840 (52) – A dissertação "Sobre o fundamento da moral" [Über des fundament der Moral] não recebe prêmio da Sociedade Real Dinamarquesa de Ciências de Copenhague.

  • 1841 (53) – Schopenhauer publica suas duas dissertações de concurso sob o título de “Os dois problemas fundamentais da ética” [Die beiden Grundproblem der Ethik].

  • 1844 (56) – “O mundo como vontade e representação”, segunda edição acompanhada de Suplementos.

  •  

  • 1851 (63) –  “Parerga e Paralipomena” [Parerga und Paralipomena].

 

Datas

  • 1788 – Nascimento. 

  • 1793 (5 anos de idade) – Os Schopenhauer se mudam para Hamburgo. 

  • 1799 (11) - Passa a frequentar a escola do Dr. Runge, até 1803.

  • 1800-1804 (12-16) – Em 3 de maio, destinado por seu pai ao comércio, junto a seus pais, Schopenhauer realiza uma série de viagens pela Europa ocidental: Holanda, Áustria, Suíça, França, Países Baixos, Inglaterra. Isso lhe rende um Diário de viagem e um excelente conhecimento do francês e do inglês. Em 25 de agosto de 1804, termina a viagem.

  • 1805 (17) – Em 20 de abril, morte acidental ou suicídio do pai de Schopenhauer; este permanece em Hamburgo, renuncia à carreira comercial para dedicar-se aos estudos dos liceus de Gota e de Weimar, e sua mãe muda-se para Weimar.

  • 1809-1811 (21-23) - Estuda na Universidade de Göttingen. Dedica-se ao estudo de Platão e Kant.

  • 1811 (23) – Ingresso de Schopenhauer na Universidade de Berlim, onde estuda filosofia. Alguns professores: Schleiermacher, Fichte e Wolf.

  • 1814 (26) – Schopenhauer rompe relações com a mãe e muda-se para Dresden.

  • 1820 (32) – Schopenhauer começa a lecionar em Berlim com o título de privat-dozent.

  • 1825 (37) – Nova tentativa na universidade de Berlim. Schopenhauer renuncia à docência e passa a viver daí em diante com a herança paterna.

  • 1833 (45) – Schopenhauer estabelece-se em Frankfurt, onde residirá até sua morte. 

  • 1848 (60) – Sua correspondência confirma que Schopenhauer desejou e apoiou a repressão em Frankfurt. - primeiros discípulos, Frauenstädt, Gwinner... 

  • 1860 (72) – Schopenhauer morre em 21 de setembro.

Contexto

Nascimento: Danzig, 22 de fevereiro de 1788.

 

Morte: Frankfurt, 21 de setembro de 1860.


Pai: Heinrich Floris Schopenhauer (comerciante).


Mãe: Johanna Schopenhauer (romancista, dona de um salão literário em Weimar, com Adele).


Irmã: Adele Schopenhauer (jornalista).